quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Torcida Boca Suja.


Passarinheiros: Estamos migrando para o site www.tyrannusmelancholicus.com.br. Esperamos encontrá-los por lá. Gratíssimos pela companhia! Bjos

Eita domingão bonito...
Depois de muitos e muitos anos sem pensar em adentrar novamente ao local, aqui estou. Sim, voltei ao Dutrinha, o acanhado Estádio Eurico Gaspar Dutra, bem ali no tradicional bairro do Porto.

Fui pra rever os amigos que um dia... (ah, deixa pra lá!). Na verdade, pintou um convite de velhos camaradas, que prefiro não citar o nome. Pra crônica ficar chique, usarei um estilo já praticado pelo elegante crítico gastronômico Apicius, que arrasava nos anos 70. Chamarei os demais personagens que compartilharam os mais de 90 minutos comigo de Senhor 'uma letra'. Senhor E e Senhor R me convidaram e fui... engrossar o caldo da torcida do mixtense.

Era partida clássica: matar ou morrer! Uma decisão de campeonato. O time cuiabano enfrentava o União de Rondonópolis. Era a partida de volta, pois, na semana anterior, empataram em Rondonópolis em 1 a 1. Ou seja: 0 a 0 classificava o Mixtão.




Mais um casal de amigos que convidei também compareceu. O Senhor H e a Senhora N. Ah... isto não dá pra deixar de falar. Um nobilíssimo escritor moderno, incensado no mundo inteiro, em seu livro "O Castelo", também se refere aos seus personagens como Senhor 'uma letra' e Senhor 'outra letra'. Franz Kafka. "Chique no úrtimo", conforme diria Jeca Gay, personagem inesqueível de Moacir Franco.

A Senhora N e o Senhor H chegaram atrasados. Ela, a Senhora N, me confidenciou depois que ao chegar ao Dutrinha, praticamente lotado, percebeu que do outro lado das arquibancadas estava mais vazio e manifestou que preferiria estar lá. Levou uma leve chamada seguida de uma (também leve) chinchada do esposo: "Lá está a torcida do União". A conversa foi percebida pelos que estavam em volta, todos mixtenses. Mas ficou por aí mesmo, apenas um clima estranho no ar. A torcida do Mixto, apesar de ser “boca suja”, não costuma se utilizar de práticas violentas.


Eu e os senhores R e E, chegamos antes e sentamos na arquibancada bem atrás de um garotinho que estava munido de uma buzina que enche o saco. "Olha onde nós fomos sentar", disse o Senhor R. Enquanto isso, o Senhor E nãos e desgrudava do seu celular. Talvez a patroa, talvez algum problema particular o levassem a essa relação tão intensa com o aparelho telefônico. Pode ser, ainda, que estivesse nervoso com a proximidade da partida, cujo vencedor, estaria qualificado para representar Mato Grosso na Copa do Brasil no ano que vem.

O pequeno Dutrinha devia estar com duas mil ou duas mil e quinhentas pessoas. E mais gente chegando. Na preliminar, o futebol feminino entre Mixto e Tangará da Serra. Injustiça colocar as moças, correndo atrás da bola, num solão brabo. 
Futebol e machismo são coisas que ainda combinam e esse entrelaçamento me pos a pensar feito um “porco chauvinista”: depois de correr feito loucas, quando chegar em casa ainda vão fazer a janta pro marido e lavar roupa e limpar a casa etc.



Começa a partida. Um jogo duro, osso duro! Duro também de assistir. O nervosismo dos 22 atletas não permitia que as equipes acertassem mais de três passes em seguida. Chutões para tudo quanto é lado... parece que a bola tá quente! Daquelas que queima os pés. A torcida implacável, faz jus à nominação de Boca Suja. Até o velho placar do Dutrinha ostentava uma faixa da tal torcida. O Senhor H revelou-me, dias depois, que ficou injuriado, atrapalhado com os impropérios e vitupérios absurdos que ouvia na arquibancada, ao lado da esposa, a Senhora N.

"Shua mãe tá aqui comigo seu banderinha ladrão". "Shua mãe tem coco, banderinha". "Ocê entrou agora, disgramado, corre fio da puta". "Ocês vai vortá tudo de a pé pra Rondonópolis". Um palavreado típico de estádio de futebol e carregado no sotaque cuiabano.

No intervalo do jogo, aproveito para comprar pipoca. Vão juntos o Senhor H e a Senhora N. A maior muvuca nas imediações do pipoqueiro. Ele e seu ajudante quase não dão conta de atender a todos. Consigo pegar minha pipoca e... uma pimentinha vai bem. Parece entupida a boca do frasco de pimenta. Sacudo e em seguida aperto com força. Uma golfada salta do frasco e se esparrama generosamente pela camisa de um garoto bem à minha frente. Algumas gotas caem também na sua perna. Reajo, percebendo que ele não viu o estrago na camisa e só sentiu o respingar na perna. "Puxa, me desculpe... caiu um pouco na sua perna", disse-lhe antes da retirada estratégica.

É o Abadio, na torcida mixtense
Voltamos ao nosso local na arquibancada. No segundo tempo, o Mixtão mostra-se superior ao União. Num dos únicos lances realmente bonito da partida, Igor atacante do Mixto dribla dois, entra na área e manda pro fundo das redes desviando do goleiro. Nem percebo que o Senhor E e Senhor R a muito se distanciaram. Sim, estou vendo... estão lá com a diretoria! Gente fina é outra coisa!

Começa a corrida contra o relógio e o União não parece muito ter forças pra reagir. Faltando uns cinco minutos para o encerramento do tempo regulamentar, saio de fininho pra não pegar o engarrafado após o apito final. Entrando no carro, ouço a massa mixtense comemorando o final da partida. Que venha a Copa do Brasil.


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