sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Remédios

Tela de Nilson Pimenta: Remédios Caseiros

Conheço um sujeito que estava numa ressaca braba. Aquela dor de cabeça que parecia que ia explodir e lançar a tampa da cabeça para o espaço. Não conseguia nem levantar da cama, quanto mais falar. Saia de sua boca um grunhido algo ininteligível. Sua esposa não estava em casa e a ajudante do lar, percebendo a situação do patrão, ofereceu ajuda. Pelo menos tentar. Aproximou-se da cama onde estava aquela coisa pós-alcoólico na tentativa de ouvir o que ele dizia. Entrou em pânico, pois ouviu um sussurro que conseguiu entender ser nome de mulher. Será uma amante? Coitada da patroa tão boa... Qual nada... o morto-vivo pedia socorro com a voz empastada:”ne-o-sal-di-na”, pelo amor do Senhor.

Remédio é a tônica da conversa. Não sei direito, mas essa palavra tônica, talvez no meu subconsciente, está associada à água tônica. Refrigerante que pode remediar alguns sintomas, já que tem quinino, usado para a malaria. Se não tiver água tônica, “remedeia co que tem”, expressão carregada pelo nosso sotaque regional, que também é título do livro de Guapo, musicista e pesquisador destas bandas.






Remédios, a bela. Personagem do emblemático livro de García Marques, escritor colombiano, "Cem anos de solidão". Uma obra sem placebos que marcou gerações. Minha memória não consegue registrar nenhum livro que tenha sido tão impactante, pelo menos para as pessoas da minha geração.

Neste mundo, dizem, tem remédio pra tudo. Têm remédios que doem e são traumáticos. Da mesma forma que García Marques ribombou em minha adolescência, outro personagem, este da farmacopeia, me perseguiu na infância. O maldito merthiolate, como ardia aquele danado. Agora tiraram o ardor, e cá pra nos, me parece que perdeu o efeito...


Ensaio fotográfico de Paulo Aureliano da Mata:
Remédios, a bela 
Cibalena, engove, bezetacil, emulsão de scott, vagostesil... Este último me ajudou a acalmar quando enfrentei o meu primeiro vestibular. Hummm... sonrizal, e depois estomazil. Tive um amigo que adorava estomazil. Dizia que tomava desde criança o anti ácido, mas que largaria quando bem quisesse. "Intantil... intantil". Pedia o filho de outro amigo, ainda muito pequeno sem nem saber falar direito. O melhoral infantil fez a cabeça de muita gente pequenina.

Na bela poesia Juca Mulato, de Menotti Del Picchia, o personagem reluta em revelar os motivos da sua dor, até que o faz. "Arrasta contigo essa tortura imensa/que o remédio é pior do que a própria doença,/ pois, pra se curar um amor tal qual esse...". Em resumo, para o mal de amar, o remédio que é esquecer, dói mais do que amar.


Juca Mulato by Portinari

Aqui no nosso estabelecimento doméstico, além daqueles medicamentos que invadem a vida dos cinquentões, tem tido muita saída um remedinho caseiro, natural que passamos tomar quase todos os dias quando migramos da sala pro quarto, do laptop pra TV. Chá de camomila... é pá bosta... derruba mesmo. E dá licença que vou botar água pra ferver!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário