segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Sessão dupla


Mais de três horas de intensa identificação com cinema. Dois filmes, um logo em seguida do outro, quase sem levantar a bunda do sofá da sala. Tava bom mesmo! Um sábado daqueles, presentes dos céus: "O homem ao lado" e "Almanya- Willkommen in Deutschland". Completamente diferentes em suas concepções, duas comédias dramáticas que nos encantaram. O primeiro incomoda e constrange, te deixa numa sinuca braba. O outro, pra rir e chorar, enquanto te embala pela história emocionante.

O cinema argentino sempre surpreende! E cada vez mais a certeza de que ele descende da boa literatura dos “vecinos”. Fotografia arrojada, diálogos precisos, personagens estruturados e fortes nos envolvem até o clímax do grande final inusitado. Curiosidade e inquietação em quem assiste "O homem ao lado" (2009), filme dirigido por Mariano Cohn e Gastón Duprat.

O cenário do filme é uma obra de arquitetura assinada pelo suíço Le Corbusier, a única que ele concebeu no continente americano, na cidade argentina de La Plata. É lá que mora o esnobe designer Leonardo, com esposa e filha. A vida cult dessa família é alterada bruscamente quando o vizinho do lado resolve abrir uma questionável janela em sua casa, colocando em xeque a privacidade do designer intelectualóide. Imediatamente, arma-se uma guerra psicológica que pode partir para as vias de fato a qualquer momento.




É curioso como quem assiste (pelo menos nós) não consegue tomar partido de nenhum dos lados. Em um dos personagens a hipocrisia aflora de forma abundante, enquanto no outro, as reais intenções e a qualidade do seu caráter, como ser humano, permanecem um mistério praticamente ao longo do filme inteiro. Victor, o “homem do lado", é absolutamente grosseiro, intrometido, indesejável como vizinho. Mas, suas ações e atitudes não o incriminam. Parece um assassino truculento e sanguinário, mas, não há provas. O que se sabe é que é capaz de fazer uma deliciosa conserva de javali.



"Almanya" (2011), filme germânico, dirigido pela cineasta alemã Yasemin Samderel de origem turca, tem um nome secundário que significa "bem vindo a Alemanha". Almanya é a tradução de Alemanha em turco. A história narrada é a de um patriarca turco que, após o final da II Guerra Mundial, resolve atender ao chamamento alemão e ir trabalhar na reconstrução do país. Primeiro sozinho, depois leva a família. 


Com ótimos atores, história envolvente, boa manipulação de truques de fotografia e uma música maravilhosa, "Almanya" é um filme comovente. Impossível conter as lágrimas. E o mesmo vale para as risadas, entre as muitas surpresas que vão se mostrando. O tema emigração já foi explorado intensamente no cinema, e nesta obra volta a ser assunto, embora funcione mais como pano de fundo a ilustrar um autêntico turbilhão de relações familiares.



Os sonhos, os desejos, frustrações e as expectativas de inúmeros personagens de uma mesma família, retratada com eles em diferentes idades; compõem uma rica colcha de retalhos que vai se desdobrando diante de nossos olhos e mexendo com nossas emoções.  Com uma edição primorosa, "Almanya" é algo que a gente absorve pelos olhos e pelos ouvidos. Uma história de delicadas singelezas humanas, mas não é tão cerebral. Bate muito mais forte no coração.  
     

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