domingo, 24 de junho de 2012

Nada

Elenco de "Nada"
Mas, que nada. Nadica de nada e foi-se o meu trauma com o teatro. Aquele medo de ter vontade de sair no meio da encenação e a atitude pegar mal. De magoar os atores, o diretor ou mesmo alguém da plateia. Certo terror que me persegue há tempos, e que só vai embora quando assisto uma peça até o final e saio feliz da vida. “Nada”, dramaturgia nascida a partir de grande ídolo, Manoel de Barros, foi “culpada” por essa agradável situação.

Eu diria que não tem começo, nem fim. Mas isso não interessa. Não compromete. As coisas lineares é que são um pé no saco de vez em quando. E que estranho... nada, um nome que tem muito conteúdo. Nunca me senti tão a vontade. Saí querendo assistir novamente.




Não morri de rir e nem chorei. A performance teatral produziu-me emoções a conta-gotas. Bela mão a dos irmãos Guimarães, dupla brasiliense que vem se destacando no cenário da dramaturgia brasileira nos últimos anos. Assisti, no arrojado espaço cultural da Oi Futuro, no Flamengo.

E depois de me imiscuir na ambiência humana que gera a poesia fértil de Manoel de Barros, o Nequinho, poeta pantaneiro; muito me instiga o resultado da Conferência Rio+20 que acaba de terminar e que ficou muito aquém do esperado. Ficou devendo, paciência. Reforço que acredito muito mais em poesias e nos artistas, do que em governantes e governanças.

(Foto: José Medeiros)

(Foto: José Medeiros)
Na direção além dos manos Guimarães, mais uma mulher, também assinava. Ao entrar no teatro me deparo com uma japonesa que estava numa pose de mestre de cerimônia e lhe pergunto: “É você que também dirige?”. “Não sou nada”. “Sou nada”, também caberia. As poucas cadeiras destinadas à plateia circundam o espaço cênico. Sete atores, ao todo, se misturam com o público. Uma mesa central e uns poucos milhares de peças de vidro de tamanho variado compõem o cenário. Surpreendo-me, a encenação já tá rolando.

Fernando e Adriano Guimarães (Foto: Dinah Feitoza/CEDOC)

É uma festa. Aniversário de 80 anos do patriarca da família. Todos os personagens, com a mais absurda naturalidade, estão perfeitamente encaixados em seus papéis. Não há declamações, mas os versos filosóficos do poeta vão surgindo como cacos ao longo texto, que resgata a experiência humana no lento e arrastado ambiente pantaneiro. Flagro-me rindo por dentro, por ser conhecedor das coisas comuns ao pantanal, e achar que estou em vantagem em relação às demais pessoas que assistem à encenação.

A grandiosidade de Manoel de Barros se dá na conjunção dos detalhes de seus versos e a força imagética que eles contêm. Minha memória é avivada e o imaginário provocado a cada minuto. Há momentos em que esqueço que estou numa peça... estou numa festa de aniversário. Quitutes e bebidas são servidos e uma velha vitrola enseja a trilha sonora que traz, entre outros, a arrebatada Helena Meirelles. Entretido com a encenação, nem percebo os 90 minutos passarem.



(Foto: José Medeiros)
                          http://josemedeirosimagem.wordpress.com

Certifico-me que a peça terminou mesmo, feliz da vida. Adoro teatro. Tenho certeza de que meu trauma com a arte de representar está superado. Pelo menos até pintar a próxima peça! Terminamos o post nos deliciando com os últimos minutos do filme “Milagre de Santa Luzia”. Mais Pantanal...

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