segunda-feira, 28 de maio de 2012

Caverna dos sonhos perdidos

“Há mais mistério entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia”. Não subestime, porém, os segredos, os cacos da história, que estão entre o magma e a superfície do nosso planeta. O ambiente cavernícola exerce uma atração irresistível em algumas pessoas que não se poupam em se arrastar e espremer-se entre minúsculas passagens, em meio a escuridão amorfa, rumo ao desconhecido. Terror e pavor para os claustrofóbicos, um prato cheio para os freudianos. As grutas e cavernas calcárias formam nas reentrâncias e aderências, ambientes semelhantes ao uterino. A perda do calor corporal que ali dentro acontece dá a sensação de que acima, de onde se está, será encravada sua lápide.

Desde que o mundo é mundo, supomos, existem cavernas. O homem tinha nas cavernas um local para se abrigar e, por ali, sentindo-se seguro, exercitava a representação do figurativo. Há registros de pinturas rupestres de algumas dezenas de milhares de anos. Vi um menininho de dois ou três anos, daqueles bem sapecas, munido de uma caneta porosa outro dia. Sob o olhar questionador dos pais, aplicou sua arte rupestre nas paredes da sala. Desenhar é legal demais. E não é de hoje que o ser humano faz isso.


Herzog durante as filmagens da "Caverna dos sonhos perdidos"

Um documentário do cineasta alemão Werner Herzog, idolatrado desde os anos 80, sobre o sítio arqueológico Chauvet-Pont d’Arc, na França, que guarda inscrições datadas de cerca de 36 mil anos, instigou-nos. Além das pinturas, algumas com traços muito sofisticados, os pesquisadores acharam ossadas de vários animais (nenhum humano) e artefatos. Não possuímos conhecimento de espeleologia, arqueologia, paleontologia etc. Sabemos que esses estudos trazem muita luz para conhecer a história da humanidade.

Desde a descoberta “de Chauvet” a França tratou o local como joia preciosa. Incentivou os maiores exploradores do mundo a desenvolverem suas pesquisas e logo pretende reproduzir o local para visitação pública. Chamou atenção ao longo do documentário um sujeito especialista em identificar odores, perfumes. O personagem procurava detectar cavernas com seu apurado faro em busca de um odor que pudesse remeter ao passado. Para isso, enfiava seu nariz em fendas ou coisas semelhantes nas formações rochosas.    

Simultaneamente ao tal documentário, nos chegou a notícia da descoberta de novo sítio arqueológico, também na França – Abri Castanet, este, anterior aos 37 mil anos. Tanto em Chauvet, quanto em Castanet, foram encontrados registros dos aurinhacenses, os primeiros homens modernos que partiram da África para a Europa, há mais ou menos 45 mil anos.

Pont d'Arc

Parna Serra da Capivara

No Brasil, o Parque Nacional da Serra da Capivara, lá no Piauí, a riqueza da pintura rupestre motivou a criação dessa unidade de conservação. Mas o empenho para assegurar esses valiosos sítios, verdade seja dita, é da arqueóloga brasileira Niède Guidon, professora da Sorbone. É um local que todos os brasileiros deviam conhecer.

Registros rupestres são usados nos trabalhos da comunidade
 do entorno do Parna Serra da Capivara  

Aqui em Mato Grosso existem vários sítios onde há registros de povos pré-históricos. E pesquisadores, como Suzana Hirooka e Caia Migliaccio, que conhecemos de longa data, vão à luta. Bem ali, na Avenida Beira Rio, está aberto à visitação o Museu de Pré-história Casa Dom Aquino, com um acervo bem bacana que acrescenta, e muito, informações sobre nossa história.

Gabriela Priante no Museu de Pré-história Dom Aquino

2 comentários:

  1. Caros amigos, muito legal esta matéria!! Agradeço pela homenagem que vocês me proporcionaram.
    É uma ótima oportunidade, para divulgar este lindo Museu existente aqui em Cbá, é um lugar maravilhoso de se visitar com a família e amigos que visitam nossa cidade.
    Grande beijo!
    Gabriela Priante

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    1. Verdade Gabi. Shi, quase encobri vc e o dinossauro com o meu dedão, na lente! Bjos

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