terça-feira, 22 de maio de 2012

Bem devagarinho

Quem casa, quer casa. Quem tem casa, a maioria, adora o mundinho que criou. Quem tem que ir para casa e quem quer casa, tem que correr... Quem tem casa nas costas como a tartaruga e seus similares (cágado, jabuti), caracóis, caramujos, traças, ostras, estrela do mar... esses não têm pressa. Andam devagarzinho, sem problema com tempo. Pode ser por causa o peso do lar que carregam, ou porque não têm pressa de chegar. Estão sempre onde querem.

Nascer com sua própria casa tem suas vantagens. Melodrama e drama são coisas inexistentes em suas vidas. Não precisam sair da casa dos pais quando estão adultos e quando casam cada um entra com sua casa e continua na sua própria casa. A separação nunca é litigiosa, cada um leva o que é seu e, nas costas.

Se tivéssemos nossa casa nas costas seria bom. Não precisaríamos correr tanto. Olha, pra dize a verdade, carregamos não a casa fisicamente, mas os custos para mantê-la. Metaforicamente, também temos nossa casa nas costas. Manter uma casa é um peso, financeiramente falando.

É devagar, devagarzinho. Ou devagarinho, pra soar como música. Assim que estamos hoje. Em ritmo de quelônios. Esses animais pré-históricos que vivem a milhões de anos neste atribulado planeta, e que também desfrutam de uma longevidade invejável. Bicho de bela ciência a tartaruga, com sua carapaça que remete a um bunker.



 
As tartarugas, com aquele jeitão vagaroso, são animais que entram em nossas vidas na mais tenra infância. Nossa geração conheceu na infância a Tartaruga Tuchê, enquanto para nossos filhos, dá-lhe Tartarugas Ninjas. Mas a fábula secular que envolve o coelho e a tartaruga chegou bem antes e ficou.





Minhas memórias mais vivas ainda parecem ser as da infância, especialmente as coisas que aprendi no ambiente rural. Acho que nem sabia correr direito, mas já perseguia os cágados que encontrava. Eram os únicos animais que não me deixavam pra trás. Uma vez fui repreendido por um matuto, que me flagrou direcionando meu indicador para a “porta da frente” de um cágado que tinha se recolhido. “Ele vai prendê cho dedo e só vai sortá quando trovoá”. Como eu não era besta, abortei a missão. E nunca mais me esqueci dessa lição. Se é verdade ou não, não serei eu a constatar.

Essa já é uma história que um caboclo lá do Guariba contou, que é um belo exemplo de entendimento da vida. Quando criança encontrou um jabuti, foi correndo pra casa, com o bicho nos braços. “Pai, olha só o que achei”. E o pai serenamente lhe disse: “Filho você não achou nada. Foi ele quem te encontrou. Ele sempre esteve lá. Vá então e deixe-o no mesmo lugar.”  

Tartaruga, jabuti, cágado... e tracajá. Deixe-os em seu lugar natural. Vá cuidar de sua casa e de sua vida.


George solitário, a última tartaruga de Galápagos
23 de maio: Dia Internacional da Tartaruga

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