terça-feira, 10 de abril de 2012

Filme dublado...

Já conversamos aqui sobre o receio em assistir filmes antigos e redundar numa baita decepção. Acontece, às vezes. Creio que não é por nossa exclusiva culpa. É que alguns ícones ficam démodé. Pode até parecer incoerência, pois clássico que é clássico, mas, enfim... acontece. E tem aquela história: cada cabeça... uma sentença.

Outros filmes parece que não perdem o frescor jamais. Rever um filme de Buñuel é difícil, porque não é todo dia que se tem acesso. E vai que... Encrenca, com os cults! Já Steven Spielberg, que hoje não faz tanto assim nossas cabeças, é mais fácil de criticar. Mas também será encrenca.




Pois bem! Enfrentando de peito aberto e mostramos até onde pode ir nossa coragem e até nos superamos. Por que acabamos de assistir novamente “O discreto charme da burguesia” (1971) e “Encurralado” (1971), que são referências cinematográficas. Até aí tudo bem. O primeiro é tema para aprofundadas discussões em congressos e mesas redondas de sociologia, geopolítica, ética... “Encurralado” descamba para os problemas de uma sociedade que vai se sedimentando em seus estereótipos e nas suas próprias neuroses...



A ousadia a qual nos referimos, foi assistir esses dois filmes dublados! As mesmas vozinhas ridículas, especialmente, quando são de crianças ou de idosos. E as dublagens acentuam seu mau gosto quando, por exemplo, um personagem vai entrar num lugar que tem uma placa na entrada “restaurant”, a câmera mostra um take com a placa e, mesmo assim, vem aquela vozinha de locutor empostada: “restaurante”.

Passamos, por incrível que pareça, incólumes. “Encurralado”, tosca tradução de “Duel”, título original de um dos primeiros filmes de Spielberg, revela a capacidade desse cineasta americano super incensado para fazer um bom cinema, mesmo que não esteja nadando em dinheiro, como acontece em suas produções mais recentes.  Um orçamento curto pode derivar em mais criatividade. E é isso que se vê neste filme, com participação destacada de Dennis Weaver na pele de um “american citizen”, inseguro com seus dramas pessoais e domésticos, viajando só pelo deserto, quando começa a ser perseguido por um caminhoneiro. Suspense, de primeira categoria.

 



“O discreto charme da burguesia”, obra prima de Buñuel, nos pareceu divertidíssimo neste século XXI. O filme é uma comédia que com o passar dos anos, teve seu humor acentuado. Assim como o bom vinho...  Buñuel teceu uma crítica feroz à hipocrisia da sociedade dominante, reunindo personagens representativos da burguesia que aprontam nas mais diferentes situações. Para aprontar, que fique claro, basta que eles se comportem naturalmente.



Ela: Ai bem, acá tiene muchas muriçocas.
Ele: Si querida, comprendo pero lo que te pica tambien me pica

“Eu estou cagando e andando para o seu exército”, diz um dos personagens de Buñuel, um manda chuva de uma republiqueta provavelmente da América do Sul, a um alta patente de algum exército europeu. Essa tradução nos fez lembrar o Tela Class, programa da MTV, que saiu do ar e era mais uma produção da galera do Hermes e Renato, onde eles pintavam e bordavam armando traduções esdrúxulas para filmes antigos inexpressivos. E a gente curtia... Tanto, que criamos a legenda acima num portunhol rasgado para uma cena do filme de Buñuel.


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