quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Sossega leão

Penso em até escolher uma fantasia e botar meu bloco na rua, porque o carnaval está batucando na porta. Curtir, primeiro, como feriado, depois, lá na hora H, quando o "tchacaracatchá, para-cu-pa, pa-pá, pá-pa, papapa" começar pra valer, é só escolher um programa.

A fantasia não é problema, duvido muito que ela não me chegue. Viver é uma grande fantasia. Nascemos nus e logo vamos nos enrolando em panos, amarrando retalhos a trapos,  emendando  tiras e alinhavamos tudo que termina em nós, no avesso, claro! Como se não bastasse, dependuramos penduricalhos, badulaques e salamaleques, colorimos o rosto, acrescentamos “pintas” e simulamos uma lágrima a rolar, por causa de uma Colombina.




Ah...!!! Aquela animação toda por conta do Rei Momo virou este amontoado de palavras confessionais dissimuladamente saudosistas. Mas, por falar em Momo, ao contrário do que se pensa, Momo remete ao feminino. Era uma deusa, a deusa dos escritores e poetas, filha da noite, segundo a mitologia grega. O significado de Momo está relacionado com zombaria, sarcasmo, burla. Para aqueles mais libertinos e ousados, talvez putaria também caia bem. Com todo o respeito.

Respeito é pouco para a "velha guarda da Portela"

E que saudades dos tempos em que samba era samba, não tinha essa de pagode. E que frevo era frevo, sem essa de axé. Momo é quem manda e seu significado também tem a ver com crítica. Assim sendo, vai aqui minha dose de criticidade: o axé desencantou o carnaval do nordeste. Empobreceu o carnaval de Dodo e Osmar que, num calhambeque, botavam pra quebrar e faziam multidões correr “atrás do trio elétrico”. E o pagode tem se mostrado um estorvo para o samba genuíno. O carnaval do Rio de Janeiro já não é mais aquela graaaannnde festa popular. Detém ainda o título de a maior e mais linda festa do mundo, só que agora ela é um espetáculo. Por isso tudo vejo meu crescente desinteresse pela folia espontânea e autêntica que já foi o carnaval.


Dodo e Osmar e o seu trio elétrico efervescente

Sabe aquela coisa que a gente via e ouvia, e subia uma energia dava vontade de sair pulando?  Não sei se toda a beleza de que lhes falo, sai tão somente do meu coração. Bumbum paticumbum prugurundum, onomatopeia distante e volátil... batidas de bumbos não são mais maracatus retardados. Todo carnaval tem seu fim. E o meu se foi com a ida de Jamelão. Como ser carnaval sem ouvir a voz desse trovão nos chamando pra folia?

Tá faltando samba no pé


O que sei mesmo é que não vai dar bode no meu carnaval. Nem garanhão, Leverger, Livramento, baile da cidade, passarela do samba etc. Não, não vou sair por aí cambaleando num cordão. E se alguém por aí disser que sou doente do pé, ou ruim da cabeça... posso procurar a terceira margem de um rio que passou em minha vida: o carnaval. Nem me lembro mais quando foi que desaprendi a magia da quarta-feira de cinzas. Que coisa mais poética essa data: quarta-feira de cinzas. Acabou o nosso carnaval... Saudades e cinzas foi o que restou.


"Acabou nosso carnaval..."

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