domingo, 29 de janeiro de 2012

Veja bem, meu bem...

Depois dos 40 anos o corpo começa a dar respostas aos excessos e estímulos a que foi exposto. Daí pra frente tudo pode acontecer. Mas há outros perrengues que ocorrem naturalmente, pelo simples fato de se envelhecer. Um dos primeiros a nos pegar, ainda meio desprevinidos, é conhecido como "vista cansada".

"Esse minino tá com dordóio. O oio dele tá remelano e aqui em casa tem um colírio bom que chama lavoio e vo pinga na vista dele. Se num miorá amanhã vo no doutor Chiconeli". Provável conversa telefônica entre duas senhoras cuiabanas, nos tempos em que o telefone era aquele aparelho pretão e pesado.

Aqui em casa óculos são nossos companheiros desde a adolescência. Óculos de grau. Nesta altura dos acontecimentos, sem eles, fica difícil, por exemplo, ler um cardápio. Durante as férias fomos ao teatro e em seguida esticamos para um restaurante espanhol. Ambos sem óculos. Na hora de escolher (e ver os preços)dos petiscos e bebida... "Garçom, por favor, nos ajude". Não foi um vexame. Só um pequeno mico.

"Eu não nasci de óculos, eu não era assim"

Passeando pelas ruas de Cuiabá, há muitos anos, com minha irmã e minha prima, ambas míopes, brinquei com elas. Mostrei do outro lado da rua, numa loja, uma manequim devidamente enfatiotada e disse que era uma amiga que nos acenava. As duas ficaram alguns segundos espremendo seus olhos e tentando firmar a vista pra ver se reconheciam de quem se tratava.

Mr. Glauco Mattoso 

Quatro olho, fundo de garrafa, cegueta, Mister Magoo... Alguns apelidos que perseguem aqueles que usam óculos. Pedro José Ferreira da Silva, poeta e escritor brasileiro, entretanto, usou de forma criativa o glaucoma que o perseguiu até perder por completo a visão nos anos 90. Seu nome artístico é Glauco Mattoso. Ganhou um prêmio Jabuti, junto com o professor da Usp, Jorge Schwartz, pela tradução que fizeram de obra de Jorge Luiz Borges, o mais laureado escritor argentino. Detalhe: Borges era cego.

Borges: o escritor dos seres imaginários

Não sei de nenhum artista plástico cego. Na música, a falta da visão não foi problema pra gente como Ray Charles e Stevie Wonder. O americano Dave Brubeck, célebre jazzista, tinha mais de 10 graus de miopia mas sua performance como compositor e intérprete sempre foi incrível. Valia-se da sua notável memória musical. Quando fez faculdade de música, quase foi expulso, ao descobrirem que ele não sabia ler partituras.


Brubeck e seu inseparável fundo de garrafa 

Alicia Alonso: Dançando no escuro

No Brasil existe um grupo de dança exclusivo para bailarinas cegas. É a Associação Fernanda Bianchini. Só que para bailar, sem a visão, é muito complicado, já que os movimentos da dança se baseiam muito na imitação dos movimentos. A cubana Alicia Alonso, bailarina e coreógrafa, perseguida por inúmeros problemas com a visão, mesmo com mais de 80 anos (ela nasceu em 1920), dirige o renomado Balé Nacional de Cuba. Ela é uma das principais artistas do século XX.

Fernando Pessoa não era cego. Tinha mais de dez graus de miopia, mas insistia em usar aqueles pequenos e conhecidos óculos (sua marca registrada) que eram adequados para quem tinha apenas uns três graus. Pura vaidade!! As lentes fundo de garrafa o deixavam com os olhinhos muito pequeninos.


"O homem é do tamanho de seu sonho"

Nós, todos nós, gostamos e precisamos ver com bons olhos. A beleza é um colírio para nossos olhos. Coisas feias, violentas, incomodam. São como cisco a estorvar-nos a visão. Olho no olho. Olho vivo. Veja bem meu bem, olhos nos olhos...

Quando a vista cansa, não dá pra esconder. Pra conseguir enxergar e ler o jeito é ficar como um tocador de trombone de vara: um vai e vem até achar a distância ideal. De repente parece que o "braço encurta"! Não adianta colocar a culpa no tamanho das letras. A terceira ou a melhor idade tá perto!!!!! Procure um oftalmologista. O resultado, certamente, será sua entrada para o grupo dos quatro olhos. Se não for o primeiro par de óculos, será mais um! Ou então junta tudo num multifocal e olhos para frente.




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