segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Tô ficando velho


(*)
Tempos atrás o maior temor do ser humano era a morte. Hoje, não mais. De um passado recente pros dias atuais desenvolvemos o medo, o terror, da velhice.
Esse comportamento não é exclusivo daqui. É mundial, por isso a indústria cosmética, a medicina estética e a geriatria crescem em escala geométrica. Os consumidores desses produtos são vorazes e cada vez mais numerosos. O Brasil já não é um país de jovens. É um país que envelhece e envelhecerá a olhos vistos. O mundo está ficando cada vez mais velho, graças aos poucos filhos gerados e a longevidade que recrudesce.  
A busca pela juventude eterna é mais contundente naqueles que tem mais visibilidade. Artistas e políticos, por exemplo, buscam quase que obsessivamente maquiar a verdadeira idade. O site imdb, o mais premiado do planeta, enfrentou há poucos dias uma pendenga com sindicatos hollywoodianos. Motivo: registra entre as informações o ano de nascimento de todo mundo.

Cauby Peixoto:" E me tranquei no camarim"...
 
Elza Soares de Louis Armstrong a Lobão

O jornal Folha de São Paulo soltou, por estes dias, reportagem interessante sobre o excessivo uso de botox e cirurgias que disfarçam a idade. O alvo eram, principalmente, atrizes, que não medem esforços para disfarçar a idade. Só que com as TVs com imagens cada vez mais perfeitas, o prejuízo dos artifícios que se verifica na expressão facial das estrelas fica demais evidente. Ou seja: a atriz era pra estar chorando, mas a pele da face está tão esticada, que ela parece rir. Aí não tem drama que resiste.
Renata e Christiane espremendo pra interpretar
Mas o furacão avança, impiedoso. Podemos dizer que o ser humano, atualmente, anda mais prevenido, porque antes de temer a morte, teme o envelhecimento. E o mercado de trabalho também reage. Dança conforme a música. Hoje em dia, há tantos jovens competindo de igual pra igual por um emprego, colocação, posição, e com tantas habilidades tecnológicas, que manter a aparência mais jovem chega a ser uma “ferramenta” contra a exclusão.

Mickey Rourke antes e depois...
Interessante que a imagem de pessoas velhas  associadas a afeto, bondade, carinho, para os jovens, já não é mais a mesma coisa. Ficamos sabendo que no Japão, muitos jovens evitam se sentar junto de pessoas velhas nos metrôs, porque não gostam de cheiro de gente velha. Esse fato me remete ao saudoso Lourenço Boabaid: “Mulher velha fede cupim, home velho fede bode”. 
Ronald Biggs, malandro véio
 
Millor Fernandes: sem estilo, mas sempre jovial

Reza a lenda, ou a Bíblia, que o homem mais longevo de toda a história da humanidade teria sido Matusalém, que para cada palavra que pronunciasse tecia 200 parábolas louvando Deus. Entre seus netos, um muito famoso, Noé. Aquele mesmo que construiu a conhecida “arca”. O curioso é que os vestígios da nossa pesquisa para elaborar este texto extremamente siderado indicam que Matusalém teve o seu fim com o episódio do “dilúvio”. Talvez tenha sido excluído da “arca”, será que naqueles tempos havia segregação contra os mais velhos? Sei lá. O que sabemos é que Matusalém viveu 969 anos.
Matusalém não pegou essa barca!
E o tema em torno da juventude, lógico, descamba para a ficção. “O Retrato de Dorian Gray”, belíssimo livro do irlandês Oscar Wilde, é um prato cheio para se adentrar na temática com arte. “O curioso caso de Benjamin Button”, filme dirigido por David Fincher, também pode ser considerado como boa arte.
Seria Oscar Wilde o Dorian Gray?
 
Brad Pitt amanhã, vai encarar?

Discorrer sobre a velhice é assunto interminável. Outro dia ouvimos um comentário espirituoso/maldoso sobre um senhor que fez um tanto de plástica no rosto, só que como não fez cirurgia na testa as rugas ali existentes são usadas quando ele coloca chapéu, é só atarraxá-lo. A genial Dercy Gonçalves (*) retrucou quando foi “acusada” de velha por um jovem: “A minha velhice é permanente, mas a sua juventude é transitória”. “Tomo no ôio”

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