quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Puritanismo e liberdade de expressão

Dois anos organizando uma exposição com uma artista de projeção internacional. O trabalho de curadoria é exaustivo. São muitos senões e detalhes, e obviamente muita responsabilidade.  Passo a passo, palmo a palmo, quilômetros e quilômetros, tempo... tempo... e muito tato, são essas as medidas nas mediações com o artista, empresário, seguradoras, transportadoras, embaixadas e muitos outros envolvidos e questões que não têm nada a ver com a arte, propriamente dita. É que a montagem de uma mostra passa por tudo isso.


São infindáveis idas e vindas antes de acertar e concretizar, enfim, o evento. E quando está faltando pouco mais de um mês, a coisa desanda, a exposição é cancelada, sumariamente. Não dizem vetada! Mas é o que parece! E foi o que aconteceu com a exposição da fotógrafa americana, Nan Goldin, com abertura prevista para nove de janeiro de 2012, no espaço da Oi Futuro Flamengo (RJ). Não rola mais! O assunto está dando o que falar, com grande estardalhaço na mídia e indignação da curadora, Lígia Canongia, de artistas e dos admiradores da fotógrafa.
Autoretrato de Mapplethorpe
Aqui no blog comentamos meses atrás o filme americano “Fotos Proibidas”, baseado em fatos reais, em torno de uma mostra fotográfica de Robert Mapplethorpe censurada em Cincinatti. A situação que envolve Nan Goldin tem a ver, já que também há fotos de nus de crianças. “Minhas fotos também são para crianças. Muitas já assistiram meus slideshows e gostaram. Crianças que fotografei há mais de dez anos são hoje minhas amigas e têm orgulho de estar na obra”, disse Nan, em entrevista ao jornal O Globo.


Parece muito estranha a postura da Oi Futuro, ao banir a exposição. A empresa de comunicação, tudo leva a crer, está meio perdida em relação a como agir. Talvez não esperasse que ia pegar tão mal "repelir" a exposição. Pelo menos, não tem se manifestado de forma claramente definida quando é questionada sobre o tema. Também há aquela história de que tudo que venha a arranhar ou, possivelmente, macular a imagem de uma empresa ou corporação, deve ser evitado, como o diabo foge da cruz. Afinal, a imagem de uma empresa, instituição ou pessoa, segundo o marketing, é o que há de mais sagrado no mundo. Quanta lorota prega e propõe esse tal de marketing. Quanta enganação. Mas, é assim mesmo.


Bom, tudo isso cheira a moralismo e puritanismo, de preferência, com o prefixo pseudo, antecedendo. É uma lástima que Nan Goldin, artista cujas obras estão no acervo dos principais museus do mundo, tenha uma exposição cancelada no Brasil. Em alguns casos, acontecimentos equivocados como este episódio acabam gerando reações e movimentos na contramão de posturas atrasadas. Será? É o que resta esperar.




A exposição denominada Scopophilia, reproduções de obras do Louvre, agora vai para o MAM-RJ, a partir de 12 de fevereiro. Menos mal.
"Eles me pediram que retirassem imagens de crianças usando fraldas"

2 comentários:

  1. Em um país hipócrita como o Brasil, era de se esperar que isso acontecesse...
    Lamentáável

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  2. Pegou mal demais mesmo... diríamos que foi algo irreparável. Está feito, haja remédio.

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