segunda-feira, 28 de novembro de 2011

E se...

“Cessa tudo que a antiga musa canta que outro valor mais alto se alevanta”. O autor destes versos, mesmo tendo um só olho, enxergava muito. Exposto o verso, vamos hoje de reviravoltas. Aquelas repentinas guinadas que mudam a rota, o andamento, o destino, de maneira inesperada, de um segundo pra outro. Isso quer dizer também que poderemos mudar de assunto abruptamente. Pode ser que hoje seja assim... sintam-se avisados.
Esse tipo de argumento é muito utilizado e dizem que causa impacto numa história. Syd Field, considerado um dos maiores “script doctors” de Holywwod, escreveu em 1979 o livro: “Manual do Roteiro”. Para ele “todo drama é conflito. Sem conflito não há personagem; sem personagem; não há ação; sem ação; não há história; e sem história não há roteiro”. E os “plot points”, ou as reviravoltas, são essenciais para manter o interesse do leitor, espectador ou ouvinte.

Syd Field, Mr. Plot Points

odete Roitman mô...rreu
Não é querer desmerecer o autor e o livro que, inclusive, faz parte da nossa humilde biblioteca. É que o buraco é bem mais embaixo. Ora, não é nenhuma novidade a técnica apresentada. A estrutura aristotélica do drama, que era praticada na Era Cristã, passeava por aí.

O drama é dionisíaco
Mas essa conversação toda, de escrever e criar para prender/vender, assegurar o interesse do público, significa concessão. O artista, então, deve se submeter a isso, desprezando a liberdade criativa e centrando-se nos fins comerciais ou mercantilistas? Ao se praticar essa suposta fórmula de sucesso, incorre-se num aspecto limitador, onde a vala comum serve para todos. Há um nivelamento mediano, para não dizer medíocre, para onde todos vão. Essa estratégia serve bem para o entretenimento, mas na arte ela é castradora. A imprevisibilidade que torna tudo mais emocionante, seja na vida real ou na ficção, vai pra onde? Pro bebeléu!  
Field valeu para Laura Esquivel em "Como água para chocolate"
Um filme, peça de teatro ou livro, cá pra nós, não deve ter sua qualidade mais notória nos rumos da história que é narrada. É na narrativa, na forma como a história é contada, onde o artista, o verdadeiro artista, vai mostrar seu talento e sua capacidade empreendedora lidando com ferramentas como a inspiração e a disciplina. Regra é coisa fora de moda. Cada um assiste o que quer e se diverte e alimenta a alma da forma que achar mais adequada.
Estrutura do drama grego e shaskespereano,
 segundo Gustav Freytag
"Reviravolta" de Oliver Stone

Viver é viver com o imprevisível. E não é fácil. Gente muito louca gosta disso, ou finge que gosta, ou não pensa no futuro. Não é segredo pra ninguém que planejar a vida gera resultados mais confortáveis. Mesmo que a sensaboria venha junto. Mas... o inesperado existe, acontece e causa reviravoltas que podem ser boas, outras nem tanto e outras muito ruins. Perder um vôo por besteira dá uma raiva danada, mas ao saber que foi salvo por esse inesperado contratempo... é um alívio, é nascer de novo. Uma diverticulite, no presidente que ia tomar posse faz o país cair em mãos inesperadas. E aí fica a instigante pergunta: “e se...” “e se...”   “e se...”   Aí, seria outra história.

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