quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Tirirical em Cuiabá


Tirirical instalado

Cuiabá cresce a olhos vistos. É só deixar de passar por um lugar por uns tempos, depois você volta lá e... onde é que estou mesmo?????  A paisagem urbana é alterada, renovada, remodelada, destruída e perdida em um espaço de tempo cada vez menor. A tal da especulação imobiliária se instalou de vez por aqui, com a força e a voracidade que exige o capitalismo selvagem. Aos que têm poder econômico, bairros chiques, murados, isolados, com toda infra interna e externa, oferecida pelos poderes públicos.

Aos de menor poder aquisitivo, bairros são construídos com milhares de casas, na maior parte das vezes, por meio de projetos que passam ao largo dos conceitos decentes de morar bem. Viver com acesso à mobilidade urbana, como ruas, avenidas e transporte público adequado é algo que está longe de ser oferecido pelos governantes. Tudo bem, há programas federais para a habitação e para o crescimento, como o PAC e o MCMV (Programa de Aceleração do Crescimento e Minha Casa, Minha Vida). Bereré grosso. E uma briga ferrenha pra ver quem pega esta ou aquela obra é o que rola. Faturar, como sempre, é a palavra de ordem. O resto... bem, o resto é resto o que a gente vê nos bairros periféricos é uma carência de serviços públicos na distribuição de água, tratamento de esgoto, asfalto, iluminação pública, escolas, segurança, postos de saúde...

Bairro Dr. Fábio

E os prédios despontam do solo como “tiririca”, aquela gramínea que é uma praga. Já tem um tirirical em Cuiabá, ali pras bandas do Pantanal Shopping. São torres (é assim que se chamam os prédios altos, agora) edificadas de tal forma, que estão formando um paredão, barrando a pouca brisa e tapando a bela paisagem de Chapada dos Guimarães. Será que ninguém vê isso? Acho que não, pois o assunto só é questionado na imprensa e na justiça, depois que as torres estão erguidas, de frente pras nossas caras deslavadas!

Tirirical instalado II

Há uns tempos falou-se em urbanização das margens do glorioso rio Cuiabá.  Depois, veio uma cheia, retiraram todos os moradores da área e colocaram abaixo seus barracos e comércios, porque ali é área de inundação do rio. É área de preservação permanente etc e tal. Pra tirar pobre tem um zilhão de desculpas e leis. O engraçado é que depois foram construindo nessas áreas e ninguém fala nada. Ali, no antigo Grande Terceiro (acho que era esse mesmo o nome do bairro), hoje, de onde foram retirados os moradores pobres de antigamente, estão instaladas empresas que atuam em diversas áreas e também se alastram as torres mencionadas acima.



A desculpa, atualmente, é que com a Usina de Manso, as cheias agora são controladas. Como se fosse possível controlar a natureza! Planejamento e obediência à legislação no que se refere à utilização da área urbana virou piada em Cuiabá.
E tá crescendo. Só que cresce esta cidade onde nós vivemos. Um sujeito que foi prefeito de Cuiabá tempos atrás, certa vez, num lugar mais alto da cidade, avistou um agrupamento de casas miseráveis que se formava – o tal do grilo, e declarou, orgulhosa e estupidamente: “Mais um bairro em nossa cidade”.  E assim tem sido a urbanização (?) deste pedaço calorento do Centro Oeste brasileiro.

Minha casa, minha vida

A capital vai se aproximando do seu primeiro milhão de habitantes, cada vez mais precária na infraestrutura, mais violenta, mais quente e até na tampa de problemas sociais. A qualidade de vida do cuiabano, é hora de assumir... está mesmo na UTI. E essa decadência segue a passos largos, infelizmente. A Copa do Mundo de 2014 vem aí. Não desejamos ser pessimistas, mas é inevitável vislumbrar que não acontecerão as mudanças necessárias pra Cuiabá voltar a ser um lugar maravilhoso de se viver.

 Centro Histórico: arborização mandou lembrança

Só se fala em projetos grandiosos, envolvendo milhões e milhões de reais. Viadutos, trevos, um novo Verdão, VLT, reforma no aeroporto etc... Obras pra ricos, pra gente que tem carro e mora bem, que exerce o livre direito de ir e vir, gastando à vontade. É isso, absolutamente isso, o que vem por aí. Não se fala em míseros cobres para arborização pública, construção de calçadas, ciclovias, recuperação dos córregos urbanos, restauração dos casarões e do centro histórico, praças, passarelas, pontos de ônibus dignos, banheiros públicos, áreas de lazer, teatro, espaços de convivência, piscinão (igual ao de Ramos, no RJ), centros esportivos, pista de skate, aterro sanitário, coleta seletiva de lixo, reciclagem, campanhas educativas... É o fim!!!


Pascoal fundou Cuiabá. E quem tá afundando?


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