sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Kyvaverá

Quando a bandeira éo gesto da poesia
Achamos que o Ivens Cuiabano Scaff é louco. Só pra completar a santíssima trindade do ditado popular: médico, poeta... e louco. Nós também somos loucos, por poesia. E como não ir ao lançamento de Kyvaverá, livro de poesias do Ivens, editado pela Entrelinhas e lançado no sexagésimo aniversário do poeta?


Claro que fomos! E eita poeta querido. A fila para os autógrafos tava de fazer inveja pra aquelas de antigamente do inps. A poesia de Ivens é universal, mas em sua maior parte canta as coisas desta terra que tanto amamos.
"O luar tece mantilhas/debaixo dos mangueirais" 








Separamos aqui um punhado de fotos que registramos na “farra” do lançamento e também dois poemas que estão no livro. Um que levanta mundaréu de dúvidas sobre coisaradas que passam pela cabeça do poeta, e outro onde ele revela seu respeito e seu carinho pela ancestralidade cuiabana. A menção aos primeiros habitantes deste pedaço, aliás, é entranhada no próprio título da obra. Que beleza a edição da Entrelinhas, reforçada pela plástica forte de Jonas Barros. Bem vindo Kyvaverá!

"Disque/num tempo tão antigo"
 Perguntaiada

Quem despertará os cajueiros se atrasar a chuva do caju?
Quem curará o soluço crônico das borboletas?
Serão primos pelo azedume
o tamarino e o cajá?
Que mágoa semeou de espinhos
o coração do pequi?
Ficou com rabo vermelho a piraputanga
de tanto comer pitanga?
Qual engraxate lustrou o casco da bocaiúva?
Qual mago saberá da cor da goiaba
somente de olhar a casca?
Queixam-se de dor nas costas as nuvens
quando rola por cima o trovão?
Se as estrelas são eternas
como é que elas parecem tão meninas?
Perguntam-se inquietas as espumas:
renasceremos em outra cachoeira?
Foi a beleza do pôr de Sol
que escancarou a boca da noite?
É pela indiferença de um velho tronco
que derrama lágrimas a jacaroa?
Quem consolará a solidão das piúvas?
Escandaliza alguém
o sensual abraço da figueira e do acuri?
É para ninar os peixes
que tamborila a chuva sobre o rio?
Dizem-se as gotas d'água umas às outras: coragem
antes de se lançarem do Véu de Noiva?
Como se lembrarão os peixes
das baías da sua infância?
Quem criticará a boemia da estrela da manã?
Qual o mínimo de poesias para um livro de poemas?
Morrem de inveja as abelhas da doçura da rapadura?
Serão várzea-grandenses ou cuiabanas
as ilhas do Cuiabá?
Por quem chora o olho d'água?
Abelhas e beija-flores
se reconhecem rivais?
Que mão foi essa que pegou pela mão
me susteve o coração através da multidão das ruas?


Índio
Vestido de baía
até o pescoço de manto matizado
de retalhos de tepidez diversa
encaro o Sol
Narciso que chega poente
a sua própria imagem rubra
Inexoravelmente vou virando índio

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