quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Bonsucesso

Vendo essa paisagem bucólica até parece que o tempo parou por aqui.  Mas não parou não... Ainda existem lugares nesse mundo em a correria imposta por esses tempos modernos passa batida e ninguém repara. Reparar pra quê?! Salta de banda!  Aqui a hora tem outra métrica. É a luz do sol e a sombra das árvores e das coisas que dão a noção e a dimensão do dia.  Calmaria. Lugarzinho que parece desentranhado da obra de um bom ficcionista regional. Mas aqui tem gente, tem negócio, comércio... O business é outra prosa por estas bandas.

O lugarejo é apropriado para um filme de época. Nem dá trabalho... não precisa botar mais nada, tudo no seu devido  lugar. O cenário é real. Luz, câmera, ação... Bom, a ação é um pouco lenta, se deixar por conta “dos povo...”  
As bandeirinhas da festa de santo vão ficando... Desbotando e se desfazendo. Deixa aí menino, tá tão bonito. Na canoa velha, encarquilhada pelo tempo, as cebolinhas vingam. É o tempero da vida pacata desse povo ribeirinho que faz o executivo querer afrouxar o nó da gravata, tirar o sapato e caminhar pelo terreiro. Cuidado com a bosta de galinha, num pisa aí. Passa cachorro. 

Dá o pé loro! Aqui ainda se vive num tempo que papagaio em casa não era pecado. Loro fica na janela, de botuca, e não rejeita assunto. Fala que nem o homem da cobra quando dá em sua cabeça de esplendor multicolorido. Ruelas e árvores que resistem ao tempo, testemunhas soberbas dessa rotina de outrora que ainda cabe nesta outra hora de futuro implacável. Nem VLT, nem BRT... Carro de boi na cabeça.



Até o gado, coadjuvante secular destas searas, entra na dança e descansa. Sol tá quente. Propício à placidez bovina. Procura-se e acha-se sombra boa, refúgio de calor. Com quantos paus se faz uma canoa e como fazer uma rede gostosa pra balangar nela. A ciência simplificada da vida ribeirinha é feita de costumes que atravessam o tempo que passa assim meio em vão.

  
  

Entre a vegetação da mata parceira do barranco vê-se o rio. Canoa com pescador batendo ponto no ofício. O peixe é que nem pão: nosso de cada dia. O rio é generoso e ainda aguenta o tranco. O tronco, o troço, o treco e toda podriqueira que jogam nele.


Ao longe, impávido, a tudo assiste uma testemunha agigantada, sentinela solitária desta terra de cerrado. O Morro de Santo Antônio que tudo vê. Sim, esse lugar existe. Dizem que é bem antigo. E não tem como não concordar com isso. Teve uma vez em que assuntei com um pescador sábio, de cabelos esbranquiçados, sobre a existência ou não do tal do Negrinho D’água. Ele me contou que pescavaa numa noite de pouco luar e viu um vulto estranho. Arremedou até o barulho do Negrinho caindo n’água. “Duvidá que existe memo... vai sabê!”     
     

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