quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Tudo tem um nome


Tropo
Gente, cidade, bairro, rua, bar, carro, livro, canção, bicho de estimação e mais um mundaréu de coisas vivas e outras inanimadas. Tudo, tudinho da silva, precisa ter um nome. Alguém tem que dar esse nome. Se a nominação for procedente, for algo elaborado e pensado, muito melhor. Se não for, paciência... Acostuma-se com esse nome duvidoso, ou troca-se.  E além do nome, a palavra oficial que remete a aquilo, ainda tem o apelido.


Hoje foi dia de dedetização aqui em casa. Tascou-se o veneno e saímos de casa à tarde, para voltarmos noturnos. No caminho de volta, de carona com amigas vizinhas, viemos conversando sobre a dedetização e nos indagaram sobre o nome da dedetizadora. Cadê que a gente se lembrava. E enquanto conversávamos sobre esse tipo de serviço, sua eficiência e o preço, também imaginávamos a quantidade e as espécies de insetos que encontraríamos envenenados, me veio a cabeça que Dedetizadora Apocalipse seria uma nominação potente para um estabelecimento comercial dessa natureza.


Formigas, baratas, aranhas e talvez até um rato, talvez seriam as vítimas. Tivemos o cuidado de deixar os gatos Nikita e Tropo pra fora da casa. Só pra constar: Tropo é o mais recente habitante deste lar tiranídeo. Escolhemos seu nome ontem, por causa do livro Trapo, que lemos e curtimos demais. O gatinho é agitadíssimo e de Trapo pra Tropo foi um pulo (do gato). Mas vacilamos. Guimba morreu. Era o peixinho que ficava no aquário em nosso banheiro. E vamos a outros nomes.

Gosto de morar num bairro chamado Recanto dos Pássaros. Ora, meu sobrenome é Falcão e a Fátima estudou ecologia de aves. Já fui editor do jornal que tinha aqui no bairro e se chamava Passaredo. Também gosto de morar numa cidade chamada Cuiabá, nome de origem indígena. Se o nome tem um viés histórico ou, pelo menos pitoresco, e remete a algo significativo, é bacana.

Não gostaríamos de morar num lugar chamado Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná, vulgo Sinop.  Muito menos lugares chamados Nova Mutum, Nova Brasilândia, Nova Maringá, Colíder e Colniza. Bairros com nomes importados como Jardim Leblon, Alphaville, Jardim Vitória, Jardim Fortaleza etc, não servem pra gente. Deus me livre, também, de residir num município nominado como Campos de Júlio, ou num bairro intitulado Pedra Noventa. “Sartei de banda” com a politicagem. Não são nada criativos os nomes citados aqui neste parágrafo. Mas que fique bem claro que nada temos contra essas cidades e bairros, muito menos contra as pessoas que ali residem. Vamos em frente.

Outras cidades de MT têm nomes com significados mais apropriados. Há algumas décadas, próximo ao Rio Verde, no médio Norte do estado, tinha um sujeito chamado Lucas, pioneiro da região. Daí surgiu Lucas do Rio Verde. Faz sentido. Apiacás, no Nortão, homenageia os índios, habitantes originais da região. Há um certo reconhecimento nessas nominações. Bairros cuiabanos como Lixeira, Baú e Goiabeira carregam um pouco da história desta cidade. Achamos que vale a pena.

Flores de lixeira
Flores de goiaba

Meu convívio com a ambiência rural cravou coisas curiosas em minha memória. Conheci um cara que não tinha um pedaço de um dedo do pé, que foi mordido por um jacaré. Seu apelido era “Resto de Jacaré”. Lembro-me de um menino que perdeu a mão num acidente e ficou cotó de um dos braços.  O chamávamos de “Braço e meio”. Apelidos, eu diria, politicamente incorretos, mas espontâneos.  Ainda dos meus tempos de guri que vivia por este cerrado de MT, ficou o nome de um espinho de uma gramínea, que era chamado de ”brigabachá”. Naquela vegetação rasteira, quem pisava descalço, era mesmo obrigado a se abaixar para retirar os espinhos. Conheci esse espinho quase que simultaneamente com o besouro “rola bosta”, que eu gostava de apreciar enquanto desenvolvia suas tarefas vitais com a bosta do gado.


Certa vez, viajando para Barra do Garças, ao passar pelo minúsculo município General Carneiro, fiquei reparando nos detalhes do lugarejo. Eis que me deparo com um bar bastante chinfrim, desses de beira de estrada, que tinha em sua fachada com letras sofríveis: Bar Nostravamus.  Aquilo me caiu como uma profecia.
   
Achamos bonito o nome Brasil. Quando os portugueses descobriram isso aqui havia em grande quantidade, na Mata Atlântica, uma árvore chamada pau-brasil. Sua resina era utilizada para tingir tecidos de vermelho e a exploração dessa espécie foi a primeira atividade econômica desenvolvida em nossa terra. Passado todo esse tempo, o pau-brasil está em vias de extinção e a Mata Atlântica... Ah, coitada da Mata Atlântica. Ela está quase acabando. E a nossa conversa, hoje, acaba aqui.





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