domingo, 21 de agosto de 2011

Medos Privados em Lugares Públicos



Resnais, em plena forma 
Nada de ir conferir o último Woody Allen, "Meia Noite em Paris" no final de semana. Tentamos ir, principalmente, porque o cineasta judeu não é um artista esgotado. O último, "Vick, Cristina e Barcelona", curtimos bastante. Enquanto não vamos de telão, dá-lhe telinha. "Medos Privados em Lugares Públicos" (2006), do francês Alain Resnais e "Como Festejei o Fim do Mundo" (2006), do romeno Catalin Mitulesco, são as nossas sinceras dicas.



Filmes que têm títulos longos enchem o saco de quem escreve sobre eles. "Medos...", originalmente "Coeurs", no Brasil, bem que poderia ter tido a mesma tradução que em Portugal: "Corações". Mas é show de filme. A impressão que nos passou é a de que ia rolar um filme mais calcado na estética visual impressionante e singular, costurada por seis personagens, cujas estórias se cruzam. O que tem de filme que segue essa trama (ou falta de trama) não está em nenhum gibi. Mas poucos são tão belos como este que Resnais, com quase 90 anos nas costas, realizou. Seu filme posterior, "Ervas Daninhas" (2009), já indicado aqui no blog, também é incrível.





Bom, Resnais parece ter a fórmula da juventude, já que seus filmes recentes retratam com maestria este mundo contemporâneo. Um crítico escreveu que só um cara com cinquenta anos de cinema poderia ter feito algo tão espetacular. É verdade. Às vezes, os críticos, que nem nós aqui do Tyrannus, acertam. O interessante deste "Coeurs" é que a medida que a história avança, os personagens, inicialmente vazios, ganham corpo e se tornam gente como a gente. Resnais é um artista desses que não só entra pra história, como sabe fazer um registro verdadeiro e único, lançando mão da complexa e detalhista arte do cinema.



O trabalho do diretor de fotografia Eric Gautier precisa ser creditado, já que a completude do filme vem muito de sua estética. Gautier já dirigiu a fotografia em outros filmes como "Diários de Motocicleta" e "Na Natureza Selvagem", entre outros. Esse filme foi programado para gravar mas houve um furo e ficamos sem ver e saber o finaldo filme. Uma pena, porque em alguns poucos minutos, o cinema de Resnais pode gerar emoções e surpresas que deixariam qualquer um embasbacado. Mesmo assim, valeu a pena assisti-lo, ainda que incompleto. Ô, se valeu!!!

"Como Festejei o Fim do Mundo" é mais um filme onde a atuação de um garoto rouba a cena, ele interpreta o adorável Lalalilou um dos protagonistas desta obra que explora visões infantis e adolescentes em torno do governo tirano da Romênia. Ele e sua irmã, Eva, contracenam com toda uma comunidade de um bairro simples, enquanto o enredo se desenvolve de forma crítica e cômica. Na filmografia romênia moderna há mais de cinquenta filmes que potencializam olhares jovens, normalmente ingênuos, sobre o nepotismo.




A terna relação entre o garoto e sua irmã permeia o filme inteiro, são aliados nos problemas familiares, coletivos e políticos. Ambos demonstram estar cientes do momento histórico que o país vive e, de uma forma ou de outra, manifestam-se politicamente.


Lali, faz jogo duplo fingi-se admirador Ceaucescu para aproximar-se. A cidade vai receber o tirano, Lali compõe um poema para ele ao mesmo tempo que prepara com seus dois amigos, um plano para eliminar o ditador.






E no dia, ele aparece na TV armado com um estilingue em riste apontado para o seu alvo. Lali está para Ceaucescu, assim como Davi para Golias. Mas o filme de Catalim Mitulescu é muito mais do que essa referência bíblica. Sua riqueza está nos detalhes, na câmera sóbria e retilínea, no desempenho de cada personagem e nas metáfora inteligentes que se sucedem. A cena em que a irmã lê a carta do maninho num transatlântico, em mar aberto é cheia de significados e arrebatadora. Fica fácil chorar. A conquista da liberdade é emocionante.




 

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