segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Alegria de Emma

Depois de bailarmos no telão, acertamos na telinha. Fugimos do Planeta dos Macacos e viemos parar no cinema alemão moderno que costuma nos surpreender a cada novo título. Nada de Fassbinder, Herzog, Wim Wenders, Fritz Lang, Percy Adlon, entre outros e, muito menos, nada contra eles. São grandes cineastas alemães, responsáveis por belos filmes que marcaram nossas vidas, sendo que alguns deles, ainda na ativa, podem voltar a nos surpreender. A gente torce pra isso.
"A Alegria de Emma", de SvenTaddicken, filme de 2006, preencheu o vazio cinematográfico do final de semana aqui neste lar feliz, embora um pouco melancholicus e tyrannus también. Foi a nossa salvação, diante de um pouco de intolerância que demonstramos para com o filme que tentamos assistir no cinema no sábado (vide post anterior a este).
Inevitável não comparar os dois filmes. É fácil de reparar no que significa um bom roteiro, escrito de forma criativa, elaborado e cerebral, sem apelar para as saídas fáceis e sem estacionar no lugar comum. Porque em cinema é mais ou menos assim: o filme tem que estacionar em local proibido... em cima da calçada, na faixa de pedestre, na frente de uma garagem etc. Chega de sapo parnasiano, de lirismo bem comportado, abaixo os enlatados... Viva a arte do cinema, aquela que mexe com a gente, que faz a gente desentender, que nos emociona de verdade, 'bravo' daquele filme que a gente assiste e sabe que depois dele nunca mais seremos a mesma pessoa.
Pois o jovem cineasta alemão, Taddicken, ganhador de alguns prêmios, mas nenhum espetacular, nos pegou de surpresa. Uma fazendeira falida e um vendedor de carros que descobre que terá sua vida abreviada por um câncer fulminante, têm seus destinos cruzados. 


Desesperado ele rouba um jaguar e dinheiro do seu emprego e sai para o México. Numa fuga desenfreada ele perde o controle (ou propositalmente perde), capota o veículo e vai parar na fazenda de Emma. Da rude Emma, uma alemã, loira, forte (em todos os sentidos: físico e na defesa de seus própositos), que sozinha encara todos os afazeres de sua fazenda (montoeira de afazeres rurais). Porcos e galinhas são os seres por quem ela demonstra carinho e respeito (mesmo na hora de matá-los). Essa é a sinopse deste filme terno e filosófico, uma comédia dramática, que trata sem o menor pudor, mas também sem exageros ou agressividades, o complexo tema da morte.

Mas não é só a morte em si. "A Alegria de Emma", com sua fotografia limpa e impecável, fala do amor, e da amizade, coisas comuns aos seres humanos; mas trata-os com uma permissividade raramente vista. Numa cena em que Emma está tirando as víscera de um porco, ela diz para Max: "as pessoas tem mais medo da morte do que da própria morte". Ela tem razão, às vezes sofremos e vivemos antecipadamente. A Alegria de Emma ensina a viver intensamente o que está sendo vivido. 



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