quarta-feira, 20 de julho de 2011

Plano... minhocas na cabeça


Tripulantes de Argos 
“Navegar é preciso, viver não é preciso”. Caetano Veloso se apropriou dessa máxima que foi imortalizada por Fernando Pessoa, na canção “Os Argonautas”. Mas a origem dessa frase, que faz a gente pensar (e nos confunde), data do ano 70 a.C., segundo o célebre historiador Plutarco. A frase é atribuída a um general romano, Pompeu, que tinha a missão de transportar o trigo das províncias para Roma, garantindo a alimentação da população local, que estava ameaçada pela fome por conta de uma rebelião de escravos.   

Se você é uma pessoa cuidadosa e planejadora, daquelas que aprecia as coisas em seus mínimos detalhes, corre o risco de se tornar um velho(a)  rabugento(a). Mas, se é gente que não planeja e não tá nem aí pra isso, cuidado, porque pode terminar seus dias num abrigo para velhos. Então, planejar é que nem navegar: preciso. Preciso ao quadrado: porque tem a ver com as ciências exatas e também por que é necessário.
A vida planejada é melhor?  Planos fazem parte da vida? É possível planejar tudo?  Somos produtos de planos?  Numa cabeça cartesiana, sim.  É difícil viver com gente assim, que pensa em tudo, nos prós e nos contras, e vive esmiuçando entre pontos de interrogação... o que? por que? como? onde? quem? quando? quanto poupar? quanto gastar? quanto Investir? quando comprar? quando e quantos filhos? Mas, por outro lado, é barra viver com gente que não pensa um minuto, no minuto seguinte. Êita vida lascada!

Viagem com família... haja planejamento!

Outro dia, assistindo um documentário sobre o tango, um músico moderno que retornava a Buenos Aires em plena crise disse que procurou no dicionário uma luz maior sobre a palavra crise. E ele encontrou: oportunidade de mudança. Planejamento já foi “planeamento”, seu sentido é pragmático, chegou pra valer no século XX após a primeira e a segunda guerras mundiais. Um pós guerra, requer a reconstrução e aí entrou o planejamento. Estranho isso, né?! O planejamento chegou por motivos bélicos. Quando é que o ser humano vai se debruçar para planejar de verdade a paz?  
Nós, brasileiros não temos o DNA do planejamento na nossa cultura. Pra muita gente planejar ainda é perder tempo porque quando o fazemos não cumprimos. Isso é fato, principalmente, quanto se trata de serviços públicos. Nesta hora um pensamento atravessa minha cachola e sugere que nós, brasileiros, precisamos planejar/pensar ao votar. Há décadas sofremos de uma revolta contumaz contra os crimes de colarinho... Sabe esse pessoal lá de Brasília, dos executivos, legislativos e judiciários espalhados pelo Brasil? Então, nós, temos um plano para eles...


Outra personalidade que deve ser citada aqui nesta conversa sobre planejamento é o mestre do suspense, Stephen King. Antes de se tornar um dos maiores autores de best-sellers do universo, o cara era publicitário e trabalhou numa grande agência publicitária americana, a JWT. Ele foi... (suspense!!!!!) um dos precursores das teorias modernas sobre planejamento.
O planejador de suspense

Mas nós, mortais, fazemos planos sim. Só que usamos outra terminologia: sonhar. O que para os céticos não tem nada a ver com planejamento, mas tem. Quando estamos sonhando, significa que estamos planejando. O brasileiro só não planejava até outro dia, os filhos, mas o resto sim. Planos de curto, médio e longo prazo fazem parte da vida do ser humano, seja ele rico ou pobre, instruído ou não, homem ou mulher... Ou você acha que pra construir um puxadinho não precisa de uma organização relacionada com custos e tempo pelo menos que, se não são cumpridos, botam tudo a perder?
Arquitetura de pobre, é barraco na beira do barranco. Até quando?

A imaginação é fundamental para compor um sonho, uma meta. Sem ela fica muito sem graça. É a melhor parte, diríamos. Quando se planeja junto, aí fica porreta mesmo. Até um blog, aparentemente descompromissado e casual como o Tyrannus, foi planejado. Surgiu de uma viagem (planejada) à Europa que fizemos em setembro de 2010. Daqui a pouquinho a gente emplaca um ano de blog.  E ninguém garante que não vamos planejar algo pra comemorar.
Gustave Flaubert, em “Bouvard e Pécuchet” (1881), conta a história de dois homens que se encontraram num banco da praça e tornam-se grandes amigos. O sonho dos dois era largar o trabalho de copistas para se dedicarem aos estudos, aos altos conhecimentos, científicos ou não, do mundo. Um deles recebe uma herança suficiente para implementarem o sonho, largam o emprego, saem de Paris e vão para o campo para colocar em prática, no laboratório da natureza, tudo que aprenderiam nas grandes obras de referência.  O resultado é uma serie de trapalhadas, narrado com humor refinado e carregado de crítica. Nem todo mundo, claro, precisa ser igual a essa dupla, Bouvard e Pécuchet.
Bouvard e Pécuchet: Entre planos e trapalhadas
É engraçado quando os planos não dão certo no terreno da ficção. Mas quando eles são frustrados na realidade, aí não é tão engraçado assim. Um dos planos que estamos por concretizar, ainda para este ano, é adquirir um minhocário. Não é brincadeira gente, é verdade. Lugar de minhocas não é só na cabeça.



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