quinta-feira, 30 de junho de 2011


Uma amiga, jornalista, sei lá quanto tempo atrás, entrou na redação do Diário e me perguntou se eu tinha escrito algo sobre comerciais de TV produzidos aqui. “Sim...”. Ela, então, contou que visitou uma agência de publicidade e percebeu um enorme baixo astral. Por conta do meu texto questionando a qualidade do reclame. Sinceramente, não era o que pretendia, mas quando a gente se mete a criticar aberta e francamente, o reflexo disso tende a provocar um grande estrago. E dizem que a crítica é necessária. Acredito.  Mas quando a crítica desce a lenha, seria melhor dizer que é um mal necessário.

Não. Não vou escrever novamente metendo o pau nos comerciais de TV made in MT, embora o assunto me remeta a uma das primeiras matérias que fiz, em conjunto com o Antonio de Pádua, habitante de outras dimensões atualmente, na antiga revista Contato. A matéria era de capa e a gente discorria sobre a malfadada propaganda televisiva de Cuiabá. E o Pádua, provocador e incisivo, manchetou logo um título assim: “Nossos comerciais, que horror”. Naqueles tempos, meados dos anos 80, a matéria repercutiu.

Pádua, Gregório de Matos do Cerrado

Lembrei de um comercial antigo – produção local – protagonizado pela grande majestade negra da cuiabania, o colunista social Jejé. O reclame era de uma casa de materiais de construção que estava com produtos em promoção. Entre eles, uma grande caixa d’água de eternit. Cena 1:O Jejé aparece dentro da caixa d’água cheia. Locução em off anuncia os preços promocionais e termina na caixa. Cena 2: Close do Jejé, com água até no pescoço,  dizendo: “Nessa... eu entro de cabeça”. Cena 3: Jejé tampa o nariz e submerge na caixa d’água, no melhor estilo “mergulho olímpico de madame recatada”.  Uma ideia simples produzida com imagens rudimentares. Eu diria um “table top” sofisticado, a explorar um ícone da cuiabania.

Jejé de Oyá, estrela de comercial

Tô aqui contando essas coisas e é impossível esquecer que protagonizei vários comerciais, alguns engraçados, outros mais pra mambembes. Um deles, eu e a Fátima fizemos juntos pro extinto Supermercados Trento. Éramos um casal de apresentadores, estilo Jornal Nacional. Eu, Deolindo Lindão e a Fátima, a Tieko Nomia, paramentada como uma gueixa ou Madame Buterfly. Dava trabalho, mas salvou a nossa pátria naqueles tempos de inflação alta. O cachê significava carrinhos de supermercados cheios.

Os textos exploravam acontecimentos de destaque na mídia e um deles, depois de toda trabalheira que é uma gravação, foi pro ar, mas o Secretário de Segurança (MT) na época, Oscar Travassos, mandou tirar do ar, porque o texto mencionava Márcio Martins, vulgo Rambo, garimpeiro que aprontou no Sul do Pará e acho que seus tentáculos se estenderam também ao Norte de Mato Grosso. Que chique ser censurado...


Outro, mais antigo, foi da Cerâmica Dom Bosco com uma galera de amigos: Gê Vilá, Mauricio Leite, Munir Nasr, Carlão, Petraglia e Urubatã, se esqueci de alguém, perdão. No roteiro, estávamos numa fila de ônibus e desenvolvíamos o conceito daquela brincadeira “telefone sem fio”. “Tijolada, a cerâmica Dom Bosco tá vendendo em 15 pagamentos sem juros”, dizia o Maurício Leite, vestindo uma camisa do Operário (vulgo, chicote da fronteira), radinho a pilha grudado ‘nas oreia’, a notícia vai repassando, até perder o sentido. A produção foi legal. Fez sucesso e incrementou as vendas da cerâmica.

Carlão, bonequeiro e garoto propaganda 


Mauricio Leite, ex-torcedor do Chicote 
O último comercial que gravei foi com o Braguinha, para a Trescinco . Nunca mais vi o Braguinha, mas a Trescinco continua no mesmo lugar. O Braguinha é baixinho, eu sou alto, a ideia era enfatizar a diferença de estatura, pois os produtos oferecidos tinham condições de pagamento flexíveis. Estávamos caracterizados como os “Irmãos Cara de Pau” (1980), musical dirigido por John Landis ...

Eu e Braguinha, caras de pau
É essa a minha curta, enfática e agradável carreira nos filmes comerciais, de Cuiabá. Resta apenas dizer que ao me referir ao último comercial que gravei, não quis dizer que abandonei minha carreira de ator de reclames televisivos. Continuo aí nas paradas, moçada... O sucesso de público e crítica, garanto.

  

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