segunda-feira, 6 de junho de 2011



Filmes produzidos nos anos 2000 e de diferentes nacionalidades no cardápio cultural do fim de semana. Sim senhor, sim senhora. Tiramos a barriga da miséria. Quase uma overdose. O novo é sempre bem vindo, apesar de que rever um bom filme sempre dá caldo. Um finlandês, um alemão e um francês. Nada especificamente contra o cinema americano, mas está longe de me bastar só o cinema que vem de lá. Talvez, ou no máximo, uma pequena inveja pela capacidade de produzir em larga escala que eles, os americanos, têm. E com tanta produção, lógico que tem coisa boa. Adoro Jim Jarmusch, Scorsese, Billy Wilder e Elias Kazan , só para citar alguns.


A gente viajou com o rigor técnico e a capacidade inventiva desse cinema europeu mais recente. Estéticas cinematográficas diferenciadas, personagens com conteúdos mais dramáticos, roteiros interessantes, musicalidade mais intencional. Nada de comédias românticas e nem de ação vertiginosa. E viva a diversidade. Viva a ausência de fórmulas estereotipadas linkadas no sucesso comercial. Viva a liberdade autoral. O cinema, como grande arte, seja pela combinação e absorção de outras artes, seja pelo seu alto custo; merece e precisa dessa experiência diversa que implica em criações de diferentes povos e culturas.




“Gelo Negro”. Uma trama estranha e envolvente desenvolvida no apoio de imagens perfeitas. Parece aquela história do mestre Kurosawa, que desenhava quadro a quadro de seus filmes, antes de guindá-los ao audiovisual. Uma personagem maquiavélica ao extremo com a capacidade de dissimular diante de todos os outros e também os telespectadores, até certo ponto, porque chega uma hora em que as coisas se tornam mais claras. Um show visual, mas nem tudo é perfeito.


Os dez minutos finais do filme exageram nas reviravoltas. E o resultado final escorrega um pouco. Com inúmeros prêmios internacionais e indicação ao Urso de Ouro no Festival de Berlim, “Gelo Negro” (2007) merece a atenção dos leitores. Acho que foi a primeira vez que me deparei com o cinema da Finlândia. Ainda bem que o conheci e agora já quero mais. Quem sabe conhecer Helsinki um dia, quem sabe entrevistar Petri Kotwica, diretor do filme.




 Um discreto casal desenvolve relação singular. Essas coisinhas, essas diferenças entre homem e mulher, se intensificam na medida em que “Todos os Outros” (2009) vai rolando. O casal, aparentemente perfeito, vai se adentrando na complexidade das nuances humanas e o cotidiano a dois vai se carregando de tensão. E o telespectador sente-se como que convidado para essa espécie de terapia que o filme de Mare Aden parece querer expor.




  
Da mesma forma que relatei minha impressão sobre o filme anterior, este também é traduzível pelo perfeccionismo ao qual submete o público. As imagens, a música a riqueza na composição dos personagens, a força do roteiro e toda sua verossimilhança. Tudo fechadinho. Engraçado, constrangedor, depressivo, reflexivo. Faturou o Urso de Prata em Berlim e o prêmio do júri no Sundance Festival. Esse cinema alemão moderno cada vez me impressiona mais. Adorei a solução que o roteiro trouxe para o final do filme.


Não sou, nunca fui, um tarado pelo cinema francês. Diria que o conjunto da produção fílmica de países como Itália, Alemanha, Inglaterra e EUA estariam num primeiro plano para o meu gosto, vejam bem, gosto de cinéfilo que não tem um conhecimento sistematizado sobre a sétima arte. Mas, entre os filmes deste final de semana, “Reis e Rainha” (2004) foi o que mais me surpreendeu. Fiquei apaixonado pelo filme de Arnauld Desplechin, onde Catherine Deneuve faz uma ponta. Ela continua belíssima.





A sinceridade dos personagens, as imagens cheias de significados, o ritmo espontâneo, a montagem fragmentada e a música pontuando de forma simbólica na narrativa me conquistaram.  O diálogo final entre um garotinho e um cara supostamente doido é uma das coisas mais sinceras que já vi em toda minha vida. Um filme depressivo e cômico, mas, acima de tudo, emocionante.




Ainda tivemos tempo de rever “A Difícil Arte de Amar” (1986), único título antigo que assistimos, de Mike Nichols, com Jack Nicholson (ainda com cabelo), Meryl Streep e Kevin Spacey numa pequena participação. Desse diretor, que julgo um pouco irregular, gosto muito de “Ardil 22”, um dos mais espetaculares filmes de guerra que já assisti. Nichols nasceu em Berlim, mas, ainda na infância, mudou-se para os EUA. E teríamos visto novamente, com prazer, “Coisas Belas e Sujas” (2003), do britânico Stephen Frears, cineasta que nunca me decepcionou. Mas a Rede Cemat tratou de faltar com a energia no domingo, justamente na hora do filme.




Claro que todos os filmes aqui citados, mesmo que não tenham recebidos nossos rasgados elogios, são recomendáveis. Estão rolando pelos canais de TV pagos. E disponíveis na internet.  



    

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