segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sábado e a opção de não sair... Às vezes custa caro. Imagina só, sábado iniciando o quase final de noite. A cerveja, antes maravilhosa, desce meio que a contra gosto, a conversa meio difícil de engatar (pudera desde as dez da matina proseando), chega uma hora que esvaece a mente turva e turbinada. E aí fazer o quê? Zapear a procura de um filme ou programa bacana, checar os gravados... De vez em quando dá certo, outras nem tanto. Uma boa pedida é vasculhar canais inusitados como TV Escola, TV Câmara e Senado (!!!), TV Fashion, Multishow, TV Cultura, Sesc TV, Canal Brasil e outros nem tão óbvios. Bom, isso é o que o nosso pacote de TV paga oferece.


Tirando um som Thelonius Monk



Nessa busca frenética achamos pérolas. A última investida foi gratificante. Paramos estatelados diante da telinha com uma figura estranha: uma mulher diferentona, que falava mais do que a boca, aliás que bocão. A eloqüência, a perspicácia, a ironia insultante e a clareza fora do comum ao se expressar, nos fez tomar a primeira providência: apertar a tecla rec. Gravar.







Claro, fomos atrás de informações básicas: era um documentário - “Public Speaking”, produção de 2010, dirigida pelo incrível Martin Scorsese. O nome da figura, Fran Lebowitz. Nunca tínhamos ouvido falar dela. Queríamos mais, partimos pra internet, o youtube e Google... Ela é americana, judia e lésbica. Nasceu em 1950, em New Jersey e chegou a Nova York em 1970. É escritora, mas há vinte anos nada publica. Foi colunista da revista Interview, fundada por Andy Warhol. Ganha a vida “falando em público”.



A edição do filme é primorosa e às vezes a gente nem percebe que de uma palestra em público, a cena passou para uma longa entrevista que é a linha mestra do doc. Na verdade é uma conversa ágil onde o próprio Scorsese é o cara que puxa a língua de Lebowitz, quando não desata numa gostosa gargalhada.



Ao longo do documentário vão surgindo artistas e outras personalidades que pontificaram na sempre efervescente Nova York, mas que são contemporâneas de Fran. Gente como Andy Wharol, Serge Gainsbourg, James Baldwin, Thelonius Monk e outros.

Já plenamente ambientados com o discurso mordaz e espirituoso dessa lady, cuja fisionomia lembra o Geoffrey Rush, percebemos que a força de suas ideias reside, principalmente, no fato de que ela é muito econômica em suas citações.

É ele ou ela?


Ela deve ter uma formação cultural esmeradíssima, além do convívio com grandes artistas de sua época. Mas o que sai de sua boca é a contextualização, uma leitura única, sábia e demasiado particular do que outros pensadores (artistas também são pensadores, claro) postularam.




Definitivamente, Fran Lebowitz não é uma estação repetidora, como muita gente por aí que não consegue ir além do jardim. Fran Lebowitz, portanto, é o cara. Alguém que não sai emitindo opiniões a bel prazer. Uma pessoa que sabe formular conceitos e desaguá-los nessa realidade singular em que vivemos.


Pendurado Serge Gainsburg

 Um personagem como Fran é peça rara. Ícone do século XXI. E um cineasta como Martin Scorsese é o que há. Os dois são a cara de NY. A trilha sonora é especial e a música New York USA de e com Serge Gainsbourg, caiu do céu. Ou do arranha céu.  
   


Fran mostrando os caminhos


Um comentário:

  1. Eu vi. Essa mulher é de lascar. Nota 10. E ótimo mesmo o comentário de vcs. Barabéns!

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