domingo, 20 de março de 2011


Enquadradamento torto, mas a orquestra afinada 
Domingo é um dia da semana que nunca é fantástico ou espetacular aqui em casa. Tem futebol na telinha, um rango normalmente mais transado, cervejinha e às vezes a gente consegue incrementar este dia com alguma coisa mais cultural. Assistir um concerto é programa digno para fechar o weekend com classe. E o Tyrannus foi checar a abertura da temporada 2011 da Orquestra de MT no Cine Teatro de Cuiabá. E como valeu a pena.

A Orquestra foi criada em 2005 e vem cumprindo o seu papel. Apresenta repertórios variados, influencia positivamente na formação de músicos regionais e, o que é mais importante, oferece música de ótima qualidade ao público cuiabano e mato-grossense, porque ela também faz turnês se apresentando em várias cidades. Ah, e têm os concertos didáticos que são feitos em escolas onde acontece uma incrível interação com estudantes.
“Precisamos de arte para não morrer de verdade”, registrou Nietzsche. Eu gosto quando me emociono diante de uma manifestação de arte. Se meus olhos pelo menos lacrimejam, já está valendo. Em todos os concertos dessa orquestra, que vi nascer (eu trabalhava na Secretaria de Cultura de Estado na época), meus olhos marejaram, como os do tamanduá mirim, segundo a linguagem cuiabana mais antiga, advinda da vivência com a natureza entre bichos e plantas.
Este foi o quarto ano em que a Orquestra abriu sua temporada tocando Stravinsky, grande compositor erudito e moderno. Moderno, quer dizer que não é tão popular e não chega a ter um nível de aceitação como Bach, Mozart, Beethoven ou Tchaikovsky. Um compositor que flertou escancaradamente com o jazz e outros sons contemporâneos, não significa sinônimo de sucesso garantido, ainda mais para um público que não é habituado a concertos e música erudita. Bom, mas acho que estou mentindo, ou equivocado, porque o público tem mostrado receptividade para com composições não só de Stravinsky, mas também para com músicas de compositores quase desconhecidos do grande público.

Selo de qualidade

 O concerto foi aberto com Guerra-Peixe, um brasileiro, moderno. Seu “Ponteado” bebe da música popular mas é sofisticado, instigante e traz um final grandioso. Do russo Igor Stravinsky rolou a Suíte n. 2, lúdica e inspirada na ambiência circense. De Arthur Honnegger, franco-suíço, do qual, confesso, nunca tinha ouvido falar, a Orquestra tocou Pastorale D’ete, que retrata o passamento das horas ao longo de um dia. Sons e nuance musicais delicadas, bonito de se ouvir e inspiradora de imagens. Depois veio uma valsa de Camille Saint-Saëns (França), quando coube ao exímio pianista cuiabano com reconhecimento internacional, Walter Asvolinsque, o posto de solista. Na opinião deste humilde escrevinhador, que não entende muito de música erudita, este foi o ponto alto do concerto. E olha que não gosto tanto de valsas. O tango nervoso e erudito de Astor Piazzolla (Argentina), “La Muerte Del Ángel” veio em seguida. Boa chance para conferir o sincronismo dos arcos e a entrega dos músicos. Porque não há como tocar tango sem sentimento. Por último, “On the Town”, do maravilhoso Leonard Bernstein. Uma música vibrante, ora mais popular, ora mais erudita, e que é a cara do cinema. Às vezes mais pra filme de ação, às vezes mais desenho animado. Os metais e a percussão roubaram a cena nesta que foi a peça mais ‘bem-humorada’ da noite. Leandro Carvalho, o maestro, tinha hora que parecia dançar, além de reger, nesta peça.


Solista cuiabano

Espírito alimentado e felizes da vida, ainda demos um tempinho no foyeur depois do concerto. Todos que saíam aparentavam felicidade no semblante. Como já disse, não sou especialista na arte da música. O que mais sei mesmo é me emocionar com a beleza e o envolvimento dessa arte sensorial. Ouvi dizer que a acústica do Cine Teatro não é lá essas coisas e fiquei sabendo que teve gente que não conseguiu lugar para assistir ao concerto, o que acontecia sempre lá no Sesc Arsenal. Uma pena, pois a Orquestra de MT dá o seu recado direitinho. Ela, com suas boas performances e seu público cada vez mais fiel, torna de urgência urgentíssima a construção de um espaço cultural para 1.500 pessoas. E ela também pode e deve melhorar, mas essa conversa minha já se alongou demais. Isso aqui é apenas um blog...  


Bernstein é cinema

    
Fomos e registramos

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