quarta-feira, 17 de novembro de 2010


O escritor solta o verbo 

Muitas coisas boas acontecem no Sesc Arsenal. Com a estrutura que a instituição tem em nível nacional e o belo e polivalente espaço que temos aqui em Cuiabá, dar uma passadinha por lá e conferir algum evento é de bom tom. E é preciso estar atento para saber da oferta cultural que chega. As possibilidades de intercâmbio com artistas e grupos de outras regiões brasileiras são bem vindas. Não é todo dia que, por exemplo, a gente tem a oportunidade de participar, aqui em Cuiabá, de um bate papo com um artista articulado, como Marçal Aquino, expert das letras modernas brasileiras, com experiência em teatro, literatura, cinema e televisão.

Graças a minha amiga Cristina, que trabalha na área da literatura do Arsenal, fui lembrado que o cara estaria por lá nesta quarta-feira. Cris me deu um telefonema salvador, alertando-me da presença do escritor. Lá fui eu, vencendo minha preguiça físico-química, que me faz ir correndo pra casa todos os dias, quando termino meus afazeres profissionais vespertinos. E, convenhamos, Marçal Aquino, é combustível nobre pra abastecer este Tyrannus, ou qualquer outro veículo de comunicação. O cara sabe das coisas, mesmo.

Conheci Marçal no ano 2000, quando lancei dois livros do Ricardo Dicke e o José Roberto Torero (escritor e cineasta camarada) me passou uma relação de artistas que curtiam literatura e que poderiam se interessar pela densa escrita dickiana. Marçal, claro, estava lá. Enviei-lhe, pois, “O Salário dos Poetas” e “Rio Abaixo dos Vaqueiros”. Recentemente ele escreveu um texto para a Folha de São Paulo reverenciando a nova edição de “Deus de Caim”, editado pela LetraSelvagem.

Reticências é o nome do projeto do Sesc que trouxe Marçal e o objeto da conversação com ele foi a criação literária envolvendo cinema, teatro e televisão. A triste realidade do mercado, especificamente na televisão, foi exposta cruamente pelo escritor, com tanta argumentação, que ficava até difícil contradizê-lo ou mesmo amenizar as ponderações. Ainda mais se considerarmos que ele está, digamos, no epicentro desse mercado, onde o espaço para a criação autoral mais pura, a ideologia e a própria divulgação e difusão cultural são qualidades vencidas pela necessidade de vender, vender e vender.

Marçal, juntamente com Fernando Bonassi, escreve roteiros para a série da Globo, Força Tarefa, que está em sua terceira temporada. “Televisão é lingüiça”, explicou ele sobre seu trabalho para a telinha. Em relação a literatura, Marçal disse acreditar que no Brasil existem hoje três mil leitores de livros, sendo que a maior parte desse público é formada pelos próprios escritores e críticos. Com esse ‘miserê’ de leitores e um mercado cada vez mais linkado com questões comerciais, o futuro da literatura, sinceramente, não me parece nada promissor. E se Marçal que está enfronhado nesse mercado da criação literária e suas variantes assim se manifestou, não pude deixar de alimentar a minha crônica frustração para com esse ‘estado das coisas’ em relação à cultura brasileira.
Enquanto ele ia enumerando seus espontâneos dados sobre essa apatia cultural, eu me punha a pensar... “putz, esse cara está muito pessimista”. E foi aí que aconteceu. Marçal narrou que palestrou na Alemanha, onde se expôs de forma semelhante, chegando a chocar a plateia alemã. De repente, o cônsul brasileiro, que acompanhava sua performance, explicou aos alemães que no Brasil a coisa não era tanto assim, e que Marçal estava muito pessimista. “O pessimista é um otimista com mais informação”, contra-argumentou o escritor.

Conversação
A conversação foi mediada por Jan Moura, que se comportou direitinho. Na platéia apenas um punhado de pessoas, o que tornou o lance mais íntimo. Marçal falou sobre muitas outras coisas. Estava aberto e dando sopa pra conversar livremente. Sorte de quem foi...      

3 comentários:

  1. E por falar em Marçal Aquino... É dele o romance "Eu Receberia As Piores Notícias Dos Seus Lindos Lábios", adaptado para o cinema, que Beto Brant e Renato acabam de rodar, com locações no Pará e no Rio.

    Lula Araújo é o fotógrafo e o elenco conta com a morenice de Camila Pitanga. Mais informações no site da DRAMA FILMES, produtora do longa:
    http://www.dramafilmes.com.br/projetos/receberia.htm

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  2. Na mosca, Valéria... Optei por não registrar isso na postagem, porque a ficha corrida de Marçal é gigantesca

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  3. Eu optei por registrar por que tive um convívio delicioso com a equipe em sua passagem carioca. Ficaram hospedados no hotel aqui ao lado de casa e deu para cruzar algumas vezes com membros da valorosa equipe.
    Agora, vamos aguardar o produto.
    Beijos Tyrannostristins

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